Mais do que um festival de filmes alternativos, o Ratazana é um festival alternativo. A primeira edição foi realizada em 2014 num boteco do bairro São Mateus, coração de Juiz de Fora, MG, iniciando uma trajetória que se contrapõe e eventualmente complementa o já estabelecido circuito de filmes independentes. Utilizando expressões como mostra competitiva sem esportiva e cooperativa ilegal de videomakers, o cineclube criou um formato acessível e divertido para exibir e debater a produção audiovisual carijó. Em sua forma e conteúdo, o projeto tem questionado a formalidade e os critérios curatoriais desse universo que não raramente valoriza o hermetismo de obras ocas.

O rato é uma referência ao Cinema Marginal, movimento contracultural dos anos 60/70 responsável por filmes experimentais de baixo orçamento que contestaram a produção cinematográfica nacional da época, sobretudo o famigerado Cinema Novo. Produzidas principalmente nas grandes capitais, muitas dessas obras foram rejeitadas tanto pelos cinemas comerciais quanto pelos festivais mais eruditos, e acabaram estimulando o surgimento de mostras paralelas durante a ditadura. O conceito Cinema de Bordas também é útil para contextualizar o universo Ratazana. Criado pela pesquisadora Bernadette Lyra, o termo abrange uma infinidade de vídeos produzidos por autodidatas espalhados por cidades pequenas e regiões periféricas do Brasil, sem dinheiro, sem pretensões comerciais ou vanguardistas, carregados de sotaques e regionalismos.

As maiorias dos vídeos exibidos na Mostra Ratazana se encaixam em um dos três perfis abaixo:

01. Filmes rejeitados em festivais de médio porte, principalmente o Primeiro Plano – o maior festival de cinema de Juiz de Fora e região.

02. Filmes produzidos especificamente para a Mostra Ratazana. Uma vez que praticamente todos os vídeos inscritos são exibidos, entusiastas têm se empenhado para lançar novos trabalhos a cada edição do evento.

03. Filmes produzidos previamente de maneira espontânea, sem pretensão de participar de festivais e, por isso, isentos de concessões e artifícios para impressionar curadores.

Assim, o Ratazana tem buscado espontaneidade e diversidade em sua programação, fomentando debates sobre produções até então marginalizadas. Após estrear num botequim em 2014, as edições de 2018 e 2019 integraram a agenda noturna do Festival Primeiro Plano. Em 2022, o projeto foi contemplado pelo edital Exibe Minas e recebeu recursos do Fundo Estadual de Cultura, o que possibilitou o lançamento do site mostraratazana.com.br com vídeos e informações sobre edições passadas e futuras. A verba do edital também viabilizou a tão aguardada 4ª edição Mostra Ratazana, que será realizada de 14 a 16 de abril de 2023 no Museu Ferroviário, baixo centro de Juiz de Fora, capital da Zona da Mata Mineira.